Resenha feita por: Cleide Merenso dos Reis.
OLIVEIRA,
Gislene de campos. Psicomotricidade: educação e
reeducação num enfoque pedagógico. ed. 7ª. Petrópolis: Vozes, 1997.
Psicomotricidade:
educação e reeducação num enfoque pedagógico de Gislene de Campos Oliveira é
uma obra que vem mostrar o caráter de prevenção, reeducação e terapêutica da
psicomotricidade. A autora divulga no
livro o resultado de pesquisas e estudos realizados nos últimos anos com o
objetivo de contribuir para a
compreensão e análise das principais dificuldades de aprendizagem encontradas
em sala de aula. Destina-se o livro a profissionais que atuam com crianças da
Educação infantil e as séries iniciais do Ensino Fundamental. A obra possui nos
5 seguintes capítulos: Capítulo I – Psicomotricidade; Capítulo II –
Desenvolvimento da psicomotricidade; Capítulo III – Aprendizagem da leitura e
Escrita; Capítulo IV – Dificuldades de Aprendizagem e Capítulo V – Conclusões e Prospecções.
No Capítulo I – Psicomotricidade –
a autora afirma que muitas das dificuldades de aprendizagem apresentadas
pelas crianças podem ser sanadas na própria escola, em vez de serem enviadas a
especialistas. Isso se os profissionais da mesma conhecerem as questões
psicomotoras e sua aplicação de forma simples e eficiente. Nesse sentido
Oliveira diz que ao nascer o cérebro da criança ainda não se encontra
plenamente desenvolvido. Para tal não basta apenas uma boa nutrição, uma boa
educação psicomotora também contribui muito para a maturação do mesmo,
facilitando a aprendizagem.
Inicialmente ela começa a descrever os diversos movimentos existentes: os
movimentos voluntários, que são intencionais
como andar em direção a um objeto, depende da aprendizagem; os
movimentos reflexos que são
não-intencionais, podem ser inatos ou adquiridos; e os movimentos
automáticos, que dependem de aprendizagem e da vontade do individuo, porém com
o hábito eles se tornam automático, como por exemplo: andar de bicicleta,
nadar, tocar piano, etc. Mais adiante ela passa a descrever o Tônus Muscular
que é uma tensão psicomotora da qual depende as atividades de coordenação e
outros movimentos.
Porém o que é a Psicomotricidade?
Ao definir psicomotricidade a autora afirma ser uma íntima relação entre a
mente e o movimento e que seu desenvolvimento apropriado contribui para a
aprendizagem em sala de aula no que se refere à prática de leitura e escrita.
No Capítulo II – Desenvolvimento
da psicomotricidade - a autora descreve os diferentes tipos de coordenação
motora: a global, que consiste nos movimentos
amplos, como andar, correr, pular; a fina – coordenação das mãos e óculo-manual
– articulação entre movimentos das mãos e dos olhos – importantes para a pega
correta do lápis , a leitura e a escrita.
A seguir Oliveira ressalta a importância do desenvolvimento de um
adequado esquema corporal, pois contribui muito para a aquisição de conceitos
de espaço, como; embaixo, em cima, direita e esquerda, etc. Além disso ressalta a importância do espelho na
aquisição dessa habilidade. Também aborda as três etapas do esquema corporal, a saber: Corpo
vivido ( ao 3 anos): a criança não tem consciência do seu “eu”; Corpo percebido
ou “descoberto” ( 3 a
7 anos): Passa pelo processo de interiorização do corpo; Corpo representado ( 7 a 12 anos): representação
mental da imagem do corpo. As perturbações que podem ocorrer no esquema corporal podem prejudicar o hábito
visomotor, o que interfere na leitura e escrita.
Ligada ao esquema corporal está a
lateralidade, que é a propensão
que o ser humano possui de utilizar preferencialmente mais um lado do corpo do
que outro, em três níveis: mão, olho e pé. O que determina a lateralidade? foi
a historicamente determinada? A hereditariedade? A dominância cerebral? Ou a influência do meio
psico-social-afetivo e educacional?
Ao nascer a criança ainda não tem uma lateralidade definida, é um
processo de evolução que tem sua definição por volta dos 7 anos. A mesma não
pode ser forçada, deve ocorrer naturalmente. Perturbações na lateralidade podem
acarretar diversas dificuldades nas crianças, como: a aquisição de conceitos de
direita e esquerda, leitura e escrita, postura, etc.
O que depende também de um bom conceito de lateralidade e estruturação
corporal é a estruturação espacial , que é a consciência
do espaço e dos objetos que o ocupam. É importante para o desenvolvimento
aritmético, a escrita de números e letras. A criança não nasce com a
estruturação espacial definida, é uma elaboração mental que se constrói com sua
relação com o meio. É importante para a escrita da criança no papel com pauta.
As dificuldades apresentadas pela má estruturação espacial são diversas,
por exemplo: podem não discriminar a direção de certas letras e números: 6 e 9;
p e b; b e d; p e q; falta de orientação espacial no papel na leitura e na escrita,
etc. e problemas na reversibilidade.
A estruturação temporal, também
está intimamente ligada ao espaço, por isso a expressão espaço-temporal.
Há uma grande ligação entre a orientação temporal e a linguagem, para ler, por
exemplo, é necessário que se possua domínio do ritmo, uma sucessão de sons no
tempo.
A estruturação temporal não é um conceito inato e sim aprendido. 1º
aquisição dos elementos básicos; 2º consciência das relações no tempo; 3º
representação mental e orientação temporal – simultaneidade, ordem e seqüência,
renovação cíclica de certos períodos e ritmo.
As perturbações da má orientação temporal podem ser: escrever palavras
emendadas; trocar letras, etc.
Por fim acuidade visual e
auditiva, sendo que a primeira é importante para a discriminação dos símbolos
da escrita de números e letras, a movimentação correta dos olhos no momento da
leitura. Uma má discriminação visual
pode confundir letras simétricas, como; d e b; n e u; p e q; e movimento desordenado
dos olhos na hora da leitura. E a segunda possibilita a retenção e recordação
dos sons das palavras, muitas dificuldades na leitura e escrita se dá porque as
crianças se esquecem do som que os símbolos representam.
No Capítulo III – Aprendizagem da
leitura e Escrita – a autora concebe
a linguagem da fala como imprescindível para a aprendizagem da leitura e
escrita. Problemas na fala podem acarretar atrasos na aquisição dessas
habilidades.
O desenho é a primeira manifestação gráfica da criança. De início –
garatujas – depois toma forma e significados. O desenho livre da criança pode
ser visto como uma escrita, uma caligrafia.
A leitura, para a autora, é muito
mais que decifrar símbolos e sons, é necessário compreendê-los, e para
desenvolvê-la é necessário adquirir
habilidades psicomotoras.
Para Oliveira a escrita é um ato
motor, por isso o desenvolvimento do mesmo é importante. A cópia é uma forma
interessante para tal. No entanto é preciso ter
cuidado com a cópia, a mesma não deve ser algo rotineiro em sala de
aula, deve-se ter objetivos, como os defendidos pela autora. O ditado também é
importante, pois se a criança não lê, ela não consegue escrever.
No Capítulo IV – Dificuldades de
Aprendizagem – são apresentadas as causas de dificuldades de aprendizagem que
podem ser: intra-escolares ( métodos inadequados, por exemplo), deficiência
mental, déficit auditivo-visual, mau desenvolvimento da linguagem, problemas
emocionais, fatores ambientais (
nutrição e saúde), deficiências não-verbais (relacionadas ao mau
desenvolvimento psicomotor), falta de maturidade, dislexia, etc.
A dislexia de modo geral é a
dificuldade específica na leitura e escrita sem que a criança apresente
qualquer problema de inteligência. A criança sempre apresenta os mesmos erros
específicos repetidamente. O diagnóstico do problema deve ser feito de maneira
cuidadosa, pois muitas das dificuldades podem ser confundidas com as
relacionadas com as deficiência no desenvolvimento da psicomotricidade.
No Capítulo V – Conclusões e
Prospecções – a autora conclui assim a sua obra:
Não se pode chamar uma equipe multidisciplinar
para diagnosticar as dificuldades apresentadas por cada aluno. O professor,
soberano no processo ensino-aprendizagem desenvolvido em sala de aula, se for
bem esclarecido e capacitado, terá condições para sanar muitas delas, e deixar
para outros profissionais casos de “fogem” de sua alçada ( OLIVEIRA, 1997, p. 135-136).
Pode se dizer que a obra contribui grandemente para o conhecimento dos
professores para uma melhor atuação em sala de aula no que diz respeito a
identificação de dificuldades de aprendizagem. Longe de indicar o professor
como o único profissional responsável pela tarefa do diagnóstico, Oliveira o
coloca como aquele, que por estar mais próximo do educando, o conhece muito
mais do que especialistas vindos de fora. Muitas vezes esses profissionais tiram conclusões precipitadas e
descontextualizadas da realidade do aluno e em vez de resolver o problema acaba
criando outros. O professor, então deve ser o principal identificador e mediador
de tais diagnóstico sem, é claro, se envolver em questões que não fazem parte
de sua especialidade.