O “Mito
da Caverna”, uma alegoria de aplicação universal, ideia genial nascida no mundo
das ideias de Platão encontra-se no centro do Diálogo em A República.
O “Mito da Caverna” impulsiona uma
transformação interior do indivíduo de modo a abalar as estruturas de ideias
fixas, de valores dogmáticos para um mundo de reflexão e crítica. Trata-se de
um salto epistemológico e existencial da pessoa que passa por esse processo. Entretanto é confrontado por um lado sombrio da grande maioria que possui um
tendência quase que inata a acatar
ideias dogmáticas, porém confortadoras.
Assim diante de um mundo onde não se
pode confiar nos sentidos, no que se vê,
com dimensões até mesmo aparentemente
conspiratórias. Sendo esse estado de coisas presente em todas as dimensões da
vida cotidiana, tanto econômica, religiosa, midiática, política, pedagógica, etc.
Na dimensão política pode se dizer
que essa falsa apresentação do mundo seja apenas características de governos
autoritários ou totalitários. Entretanto
até mesmo em ditas democracias, estado democrático de direito, pode-se
identificar essa dimensão quase conspiratória e alienante. Podemos viver em
ditaduras democrática? Evidentemente que o paradoxo está claro. Mas pode-se sim
viver a ditadura da maioria. Sendo que a opressão da minoria pode ser
legitimada, sem que se perceba que o que se diz democrático são os direitos e
deveres e não meramente opiniões. Na verdade não importa qual o regime. O que
importa é conhecer o a essência da natureza humana, que é quase sempre a do interesse, mesmo que essa
interesse seja com as mais “puras” intenções. Salvo exceções evidentemente.
Perceber essa nuance é fundamental
para que se atinja um nível mais crítico, eis que surge aí uma luz na
escuridão. O espírito encarcerado passa a partir para a ação. Emergir-se para o
mundo das ideias, do saber, do conhecimento, é algo libertador. Porém não se
trata de um conhecimento dogmático de outrora. O conhecimento limitado, até onde os outros queriam que ele
soubesse. E sim um conhecimento que nasce de uma mente livre. Livre dos dogmas
políticos. Assim deixa de ser oprimido. Porém se vê agora na missão de “
evangelizar”. Descobriu uma boa nova e agora que contar para todo mundo. Mas
logo percebe que esse processo não
ocorreu com todos. Os outros ainda estão
na escuridão, dispostos a defender o opressor com unhas e dentes. Sem percebem,
no entanto, que estão contra si mesmos. Isso culmina como sempre na morte, real
ou simbólica, daquele que quer libertar.
Falta aqui a desenvoltura da figura do pedagogo, da dimensão pedagógica. Didático, ele poderia desembaraçar lhes a
visão utilizando o próprio conhecimento sobre o mundo sensível e ir aos poucos
clareando a mente. Tal como os olhos, acostumados a escuridão, precisa abrir
aos poucos para se acostumar com a luz ofuscante.
Imergido em uma escuridão, a loucura
dogmática faz sentido, mas aos iluminados não faz nenhum. Então a missão do professor não é simplesmente contar
o que viu. E sim possibilitar a seus pupilos oprimidos politicamente, em sua
dignidade e direitos fundamentais, os
mesmos processos de descoberta pelo qual passou.
A mera exposição dos conhecimentos,
em um molde tradicional de transmissão de conteúdos acríticos e descontextualizados só pode gerar efeitos
contrários. Mesmo que bem recebidos,
esses conteúdos inovadores e
libertadores, podem ser assimilados como
novos dogmas de uma nova religião. E não é isso que o professor revolucionário
quer. Ele quer a transformação, ele não que pessoas que apenas acreditam como
ovelhas, mas que queiram conhecer. Acreditar já acreditavam antes. O que devem
se dar conta é que o conhecimento é uma
eterna construção-desconstrução, não há uma outra saída para isso. E
isso é desconfortante. Um conhecimento seguro, imutável, nos é muito
agradável. Aquele que ousa tirar-nos
esse conforto corre um sério risco de vida. Conhecimentos assim são dados por
deuses, pelos anciãos experientes, por mestre inquestionáveis e ninguém pode
ousar desafiá-los, sob pena de perder a vida. Uma vez que desestrutura a ordem
estabelecida. Esse é o maior problema que pode matar o professor precipitado.
Como aquele que é morto por seus próprios pupilos.
Num mundo, onde as toneladas de
informações estão no ar, poder-se-ia afirmar que o que não nos falta é o
conhecimento. Porém são incapazes de filtrar essas informações. Para a concepção de uma mente livre e
pensante é necessário mais que informação. É necessário um despertar interior.
Algo que um bom mestre, num
processo maiêutico e dialético pode
proporcionar. O mundo real está no mundo das ideias. O despertar interior do
pupilo é algo a ser instigado pelo
mestre. Assim o verdadeiro mestre é aquele que consegue fazer perceber o estado
de ignorância do pupilo. E este a admite não como uma fraqueza e sim como uma
força propulsora, um ponto de partida para o verdadeiro conhecimento.
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